sábado, 24 de dezembro de 2011

E por falar em N A T A L ...

Presépio, obra de Machado de Castro

E por falar em N A T A L ... 

                Quando pergunto para as crianças: O QUE É NATAL ? a resposta é curta e imediata em uníssono coro infantil: PAPAI NOEL ! Aliás, desconfio que para alguns adultos a resposta também seria (ou é ?) a mesma. Entretanto, penso que a diferença de compreensão deste evento festivo é (ou deveria ser) bastante grande, ou seja, para as crianças penso que natal faz parte do imaginário mágico-lúdico-infantil (com acentuadas pitadas de alegria, magia e inocência), mas para os adultos penso que natal é o resultado de alguns fatores psico-sócio-culturais tais como: mídia, propaganda, mercado, consumismo, interesses, aculturação, etc.
            Nesta reflexão não vou me deter a discorrer sobre detalhes das datas possíveis do nascimento de Jesus ou sobre a(s) estória(s) do presépio, do “santa Klaus”, da árvore natalina (inclusive as que circulam virtualmente onde cada um escolhe e coloca seus amigo\as), das renas voadoras, dos gnomos ou duendes (que trabalham na fábrica de brinquedos do Papai Noel), do banquete ou ceia de natal, etc. Por quê ? Porque tudo isso (e muito mais) está disponível e descrito com abundância de detalhes nas mais mirabolantes versões e incríveis versões divulgadas na mídia e\ou postadas na internet.
Neste texto proponho uma reflexão sobre os “dois extremos do natal”, ou seja: seu significado originário e as festas natalinas hoje, e concluo sugerindo alternativas para celebração do NATAL DE JESUS.
            A NATIVIDADE DE JESUS (isto é, o nascimento do CRISTO DE DEUS): este é o evento central e exclusivo a ser celebrado no Natal. Nesta ocasião a religião cristã relembra um acontecimento único ocorrido há muito tempo, numa bela noite palestina, quando alguns pastores receberam a mensagem de um anjo (= mensageiro) anunciando-lhes uma BOA NOTÍCIA (= um evangelho) para a humanidade:

“hoje, na cidade de Davi (na vila de bethlehem = casa do pão) nasceu
para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor!   (Lc 2,8ss)

Este registro de São Lucas tem consonância evangélica em São Mateus que usa a conhecida expressão hebraica EMANUEL para ratificar a mensagem natalina: DEUS ESTÁ CONOSCO! ((Mt 1, 22-23), ou seja, Deus está no meio de nós, entre nós, con-vive conosco! Por sua vez o Evangelho de São João corrobora a mesma BOA NOTÍCIA, porém, apresentando-a em linguagem greco-filosófica: kai ó logos kapre egeneto, significando:

        “O VERBO SE FEZ CARNE E VEIO MORAR NO MEIO DE NÓS” (Jo 1,14)          

                A mensagem cristã-evangélica para todos os povos e nações é que no NATAL comemora-se o NASCIMENTO DE JESUS (= o Deus-Criança) que nasceu sob os cuidados amorosos de José e Maria). Este Menino, sendo Humano e Divino, torna-se o “supremo elo de ligação” (re-ligação = religião) entre a Divindade e a Humanidade. Em outras palavras: no natal os cristãos de todo o mundo celebram o nascimento de um DEUS que se torna “gente como a gente” a fim de que as pessoas O encontrem no cotidiano da sua vida (com simplicidade e humildade) e percebam Suas marcas na face de seus semelhantes (em fraternidade e solidariedade).
            O Natal é um fato tão marcante e extraordinário que divide a História (AC e DC) e se torna o evento referencial para marcar o (re)começo da contagem do tempo. Ou seja, o tempo Antes de Cristo tinha a história voltada para Sua espera em “alegre expectativa” (= advento), e o tempo Depois de Cristo (= redenção) tem a história contada a partir de Sua interferência divina.  Consequentemente, a Salvação da humanidade se dá a partir da implementação dos sinais (milagres e prodígios) que Jesus foi, fez e apontou a fim de demonstrar factualmente que o Reino de Deus chegou e já está produzindo muitos e bons frutos entre e através de nós.
                    Contudo, O NATAL HOJE, tornou-se o resultado de um sincretismo religioso-cultural, dominado por festas pseudo-cristãs que se apropriaram do evento natalino e o tornaram refém de um “mega evento”. Este, por sua vez, tem como objetivo celebrar uma grande festa, repleta de bens de consumo (bebida, comida, presentes, etc) que, para cumprir tal finalidade e impregnar as pessoas da necessidade de “dar e\ou receber” presentes utiliza-se da figura mágico-estética do PAPAI NOEL.
            Na verdade o Bom Velhinho também se tornou refém do consumismo exacerbado e da ideologia mercantilista da pós-modernidade onde tudo se resume naquilo que você tem ou deseja, pois, o que realmente interessa não é o gesto magnânimo e gratuito da candura de dar e receber presentes, e sim, a necessidade e o dever de CONSUMIR... mesmo que isso signifique “consumir-se” de tanto trabalhar para pagar as intermináveis prestações dos vários carnês mensais!
No contexto das atuais festas natalinas o PAPAI NOEL também é um mero instrumento de negócios e, se não fosse ele, certamente seriam utilizados outros meios (e\ou pessoas) a fim de cumprir o primeiro e grande mandamento do capitalismo: Não deixarás de adorar o deus-do-consumo nem de adquirir tudo o que o seu coração deseja, custe o que lhe custar!
Entretanto, ao tomar conhecimento e consciência desta realidade e SE desejamos fazer algo diferente neste natal, proponho três alternativas (entre tantas) para celebrar o NATAL DE JESUS:
1 – Reunir a família e\ou reunir-se com amigos\as para preparar uma Ceia (ou participar de alguma) que, entre tantos preparativos importantes, não esqueça de celebrar o mais importante: o nascimento de Jesus. Antes de cear proponha ou faça um momento devocional (com silêncio, leitura do Evangelho, orações, Pai Nosso, etc). Permita que Jesus se faça presente e se sinta convidado para a festa, aliás, prepare a (sua) festa como se ELE estivesse presente (e verás que Ele estará!);   
2 – Reconstruir relações e\ou reviver ideais porque o Natal de Jesus também é um “tempo oportuno” (= kairós) para a reconciliação, ou seja, é um momento adequado para novos e sempre oportunos gestos de amor, de perdão, de gratidão, de compreensão, de solidariedade, de justiça, enfim, gestos de PAZ... afinal, celebra-se o nascimento do Príncipe da PAZ;
3 – Participar de alguma atividade humanitária, pois várias são as instituições que organizam, promovem e realizam atividades natalinas com “espírito cristão”, ou seja, dar presentes (especialmente para crianças mesmo que seja através do Papai Noel) simbolizando o maior e o melhor presente que o mundo já recebeu, que é o presente do próprio Deus: o Menino Jesus;
4 – Envolver-se com instituições e\ou tomar iniciativas que promovam a dignidade do ser humano, resgatem a “fagulha divina” e protestem contra todo e qualquer tipo de escândalos, corrupção, mentiras, injustiça e morte de pessoas inocentes e\ou indefesas, porque o NATAL DE JESUS é um EVENTO DE VIDA PLENA E FELIZ para todas as pessoas!

FELIZ E ABENÇOADO NATAL PARA TODOS !
Rev. Ramacés Hartwig, ost
Clérigo cristão anglicano
Colônia Santa Helena

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