sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Série Mestres do Poder - Parte II

A professora Maria Eulália Lemões, presidente do Conselho Municipal de Educação,
foi a cordenadora da Mesa

Uma plateia silenciosa assistia à palestra do Dr. Outeiral

Com a conferência proferida no Guarany e intitulada Mal-estar na escola, famílias, alunos e professores, o Dr. José Outeiral, médico psiquiatra e professor de Filosofia da PUC de Porto Alegre e da PUC de São Paulo, trouxe grandes experiências a uma atenta plateia. Para introduzir o tema da conferência, o Dr. Outeiral falou sobre a "desinvenção da infância", afirmação que produziu uma grande reflexão no público que assistia. Segundo ele, a modernidade, há 200 anos atrás, com o iluminismo, criou um conceito fundamental de infância, conceito este que a sociedade está desinventando, passando tal problema a fazer parte da barbárie. Asseverando que brincar é fundamental e que o tédio faz mal aos jovens, os quais estariam vivendo um momento de alta impulsividade, baixa tolerância à frustração e pouca abstração, o professor Outeiral instiga os educadores a lutar contra isso. Diz que hoje se quer ensinar, colocar para dentro os signos, quando na verdade, o que se deve fazer é procurar botar para fora o potencial dos alunos. A isso se poderia chamar de educar. Um dado preocupante nesse contexto, segundo ele, e até para que se possa entender a barbárie que assola nossos dias, é que o adulto é uma espécie em extinção na sociedade contemporânea, vez que muitos portam-se como adolescentes. Sendo assim, não havendo adultos, em que pilares se apoiará a sociedade? Na sociedade atual, valores importantes e paradigmas estão sendo contestados. São eles: - a mudança da noção de tempo, que os adultos têm um e as crianças e adolescentes têm outro, muito mais rápido ( no caso, o tempo subjetivo); - a cultura do descartável, tendo a modernidade mudado o sujeito psíquico; - a banalização, onde ver é apenas fenômeno fisiológico, e olhar é muito mais do que isso; - a ordem da narrativa, que era linear, com início, meio e fim, e que hoje é circular, podendo, segundo Elliott, o fim estar no começo; -a erótica, sendo esta a concepção que pauta a relação entre as pessoas, fazendo tudo muito mais fugaz (Quando do romantismo de Goethe, tinha-se o amor sofrido do jovem Werther, que o levava ao suicídio, hoje o amor é apenas periférico); - a estética, que hoje é baseada nas imagens e muito mais rápida para os jovens. E é muito difícil, com tudo isso, o professor competir com o tipo de mídia a que os alunos têm acesso fora da sala de aula. O professor teria de ser também um esteta, buscando a forma de cativar o aluno. Para o Dr. Outeiral, são quatro as questões fundamentais da escola: - preservar o sonho, o desejo e a utopia, afinal não devemos transformar nosso trabalho num ato alienado e o professor deve ser um militante na sua profissão; - introduzir o brincar e a criatividade na sala de aula, pois a criança que brinca será um cidadão diferente e a contemporaneidade desinventou o brincar ( que um latim significa vínculo), portanto é necessário que se retome isso; - pensar, vez que o pensar será sempre uma forma de transgressão; - e incluir o mundo adulto na escola, através do exercício da autoria na sala de aula, vez que autoria produz autoridade e o outro precisa nos reconhecer como pessoas que valem a pena ser escutadas.

Nenhum comentário: