A palestrante convidada para fazer o encerramento do Encontro de Escolas do Campo foi a professora Carmem Regina Wiznievsky, doutora em Geografia Agrária pela Universidade de Córdoba, na Espanha, e que atualmente atua junto à Universidade Federal de Santa Maria, com estudos relacionados à questão agrária. A professora, que já deu aula na rede estadual de Pelotas, disse que o que de fato se quer é uma escola rural verdadeira, que valorize o campo, que se relacione com a comunidade, que seja uma luta constante. Falou da necessidade de territorialização no campo, ou seja, do campo ser para quem nele vive e trabalha, devendo o sujeito professor da escola rural não ficar omisso, exercer o fundamental papel de discutir as questões do campo e dar a elas rumo mais justo. A professora apontou o conceito de que território é qualquer espaço que sofre ação de poder, sendo que o estado, os agricultores, as organizações sociais e a comunidade escolar encontram-se entre os atores que produzem o território. Segundo Raffestin, (pesquisador citado pela professora), território é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático em qualquer nível. Para ele, então, território é, por assim dizer, indissociável do poder. Territorialidade, segundo Carmem, se cria pelo poder do movimento contínuo de transformação da técnica e da sociedade através do modo de produção da vida (nesse caso, capitalista) e implica na criação, na destruição, na reconstrução dos territórios, resultando também na (des)territorialização e na territorialização de grupos sociais e seus saberes tradicionais. Segundo Carmem, quando o capital se territorializa, o pequeno agricultor se desterritorializa. “E hoje já há vários bairros da periferia formados por agricultores desterritorializados, de quem o capital roubou o território e que, com isso, perderam o vínculo com a terra”. Para Girardi, outro pensador citado por Carmem, há dois tipos de território no campo: o território da agricultura familiar e o território do agronegócio. O primeiro não explora, é harmônico e preza a diversidade. O segundo é competitivo, domina a natureza, é explorador, preza a economia de mercado e a empresa. Nesse meio, o homem do campo fica desassistido. Necessita, pois, de políticas públicas e organismos macro que venham em seu auxílio. A professora comentou também sobre alarmantes estatísticas que demonstram que grande parcela da população do campo ainda passa fome e do perigo que existe de que tal parcela venha a viver em regime de escravidão. Para ela, dados como estes aumentam a necessidade de mudança e também de se ter um olhar crítico em relação ao problema. Carmem entende que a saída está em uma educação do campo voltada para o desenvolvimento sustentável e para a valorização dos recursos naturais. Uma educação que consiga resgatar os saberes e buscar alternativas de superação e elevação da auto-estima da população do campo.
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